A São Paulo que a gente vê de longe, toda iluminada, nem sempre corresponde à realidade dos moradores. Quem caminha à noite por uma das principais ruas da VilaBrasilândia zona norte, passa medo.
“Eu e minha mãe, vem no maior medo de sermos assaltadas. Medo de algum ladrão nos assaltar e nós sermos sequestradas. Maior medo”, declara a estudante Letícia Paula da Glória de Souza.
“A gente não vê. Às vezes eles estão num beco que não tem iluminação e fica à espreita e a gente tem medo”, conta a empregada doméstica Marta Figueiredo Lopes.
Penumbra e, muitas vezes, escuridão completa estão no caminho do paulistano em todas as regiões. “Eu moro aqui a minha vida inteira, 17 anos”, diz a estudante Patrícia Oliveira de Souza. Perguntada sobre como tem sido a rua à noite, ela responde: “Sempre escura”.
A Polícia Militar mapeou as áreas mal iluminadas da capital e listou 643 pontos com problemas. A iluminação é mais deficiente nas Zonas Norte, Leste e Sul. A situação também é complicada na Zona Oeste e no Centro.
“São pontos que, de algum modo, sugerem ou facilitam a ação de ladrões, de assaltantes, por isso são identificados, anotados e repassados ao poder público municipal, com esse propósito”, declara o secretário de segurança pública Fernando Grella Vieira.
A falta de iluminação também deixa o trânsito ainda mais perigoso. “Quase morri esses dias aqui por causa da iluminação. Não tem iluminação e os carros quase passam por cima”, responde o estudante João Luiz Silva dos Santos, que anda de bicicleta.
Basta uma volta pela região central para perceber pontos mal iluminados. Uma das exceções, a Avenida Paulista, reforça o contraste com as ruas próximas. Bairros de classe média-alta da Zona Sul também sofrem.
Tem ruas em que, além de haver poucos pontos de luz, eles estão mal localizados. Em alguns casos, as lâmpadas são encobertas pelas arvores. Em uma rua, os moradores chegaram a espalhar cartazes alertando os motoristas sobre o perigo de parar o carro.
Eles avisam aos visitantes sobre o alto índice de roubos na área. E assinam: “Moradores cansados de esperar pelas autoridades”.
O secretário de serviços do município diz que até o fim do ano a prefeitura vai instalar 18 mil novos pontos de luz na cidade e trocar 120 mil lâmpadas de mercúrio pelas de vapor de sódio, que são mais eficientes e econômicas.
“Herdamos uma situação bastante crítica, estamos trabalhando muito, mas as praças que receberem iluminação, as novas ruas, as avenidas que estão recebendo a mudança de luminárias, já vão sentir a diferença, já estão sentindo”, declara Simão Pedro, secretário de serviços do município de São Paulo.
Medidas pra dar a sensação de segurança que muitos moradores não têm. “No caso, normal, às vezes eu não estaciono, eu vou para o estacionamento”, diz a aposentada Kadija Sadiomir Araújo. Perguntada se estivesse sozinha, se pararia naquele ponto, ela diz: “Ah não, nem viria”.
A Prefeitura renegociou o contrato com as empresas que cuidam das luzes da cidade. O consórcio SP Luz, que reduziu em 20% o valor a ser pago. Isso representa uma economia de R$ 70 milhões para São Paulo. Além disso, a prefeitura exigiu a instalação de 19 mil novos pontos de luz em lugares recomendados pela Polícia Militar. E as empresas do consórcio SP Luz aceitaram as novas regras do contrato de acordo com a Prefeitura.