De acordo com as Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), há 15 milhões de pontos de iluminação pública no País, o que corresponde a 3% do consumo nacional de energia e a uma demanda de 9,7 bilhões de kWh/ano. A Eletrobrás incentiva a substituição das lâmpadas da iluminação pública que funcionam com vapor de mercúrio por aquelas que usam vapor de sódio, pois podem reduzir o consumo de energia de 5 a 40%.
Entre os anos de 2002 e 2003, pesquisadores do Laboratório de Qualidade de Energia e Eficiência Energética (Labquauli) do Núcleo de Energia, Sistemas e Comunicação (NESC), do Instituto de Tecnologia (ITEC) da UFPA, analisaram a eficiência e a vida útil de marcas, modelos e tipos diferentes de lâmpadas utilizadas na iluminação pública na capital paraense, o funcionamento de pontos de iluminação em quinze lugares da cidade e estimaram os danos ambientais que podem ser causados pelo descarte inadequado desse material.
A pesquisa constatou a existência de um lado negativo na substituição de lâmpadas. “Um tipo de desperdício de energia diferente é causado pelas chamadas distorções harmônicas ou harmônicos, espécie de sujeira gerada por equipamentos mais eficientes, como lâmpadas fluorescentes e eletroeletrônicos com dispositivos da eletrônica de potência, que prejudicam o funcionamento adequado dos aparelhos, seja uma lâmpada, seja um computador”, explica Maria Emília Tostes, professora de Engenharia Elétrica da UFPA.
Se imaginarmos que a energia elétrica é como a água que chega as nossas casas, os canos seriam os cabos e as torneiras, tomadas. Então, uma distorção harmônica na corrente elétrica seria como se, ao ligar a torneira para lavar louça, junto com a água, também tivéssemos óleo e lama. O harmônico acontece quando, junto com a frequência da corrente elétrica de 60 hertz, passam no circuito outras frequências que prejudicam o desempenho e a vida útil dos aparelhos e lâmpadas. Como um prato lavado com água e óleo de cozinha sujo.
Constatou-se que os harmônicos são gerados mais por lâmpadas eficientes. “Economizamos com lâmpadas e aparelhos que requerem menos energia, mas, ao mesmo tempo, estamos jogando no sistema elétrico uma lâmpada que provoca perdas de energia decorrentes das distorções harmônicas. Se em canos de água, o acúmulo de ‘sujeira’ provoca vazamentos, neste caso, provoca perda de energia”, diz a professora.
‘Sujeira’ prejudica vida útil de equipamentos
Os pesquisadores também verificaram a eficiência da iluminação pública em quinze pontos de Belém. Observando a ocorrência das distorções harmônicas em circuitos elétricos de diferentes tipos, ou seja, em lugares onde a energia era direcionada apenas para a iluminação pública e em situações em que a eletricidade abastecia, ao mesmo tempo, postes de iluminação, sinais de trânsito, residências e comércios.
“Constatamos que nos locais onde a rede elétrica de iluminação pública também estava ligada a outros tipos de consumo de energia, como casas, comércios ou semáforos, estes outros ‘consumidores’ também eram afetados pelo problema de ‘sujeira’ na corrente elétrica, que aquece os cabos por funcionar com equipamentos que permitem a existência de outras frequências de corrente elétrica e, por isso, provoca o aumento do consumo de energia”, detalha a pesquisadora do NESC, Maria Emília Tostes.
O resultado é perceptível a longo prazo. “É difícil para a população perceber que algo está acontecendo e tomar uma providência, pois ela nem desconfia de como estes processos se dão. O que notamos, cotidianamente, são lâmpadas que deveriam durar um ano e que ‘queimam’ em poucos meses, entre outros fatores, por esses problemas do sistema elétrico”, conta.
A pesquisadora defende que os governos têm um papel central na prevenção deste processo. “Não há uma legislação que obrigue os fabricantes a utilizarem, nas lâmpadas, componentes que gerem menos harmônicos. Mas se houver uma preocupação maior dos governantes em limitar a produção de distorções harmônicas pelos equipamentos com leis e uma fiscalização mais eficaz, o efeito disso seria a melhoria de todo o funcionamento do sistema elétrico. Então, os equipamentos, lâmpadas e eletroeletrônicos teriam uma vida útil mais próxima da descrita na embalagem”, acredita.
Descarte de lâmpadas polui meio ambiente
A eficiência das lâmpadas está relacionada ao tipo de material utilizado para a fabricação de seus componentes. As chamadas lâmpadas de descarga conduzem eletricidade entre dois filamentos com a ajuda de um gás, o que produz energia luminosa visível ao olho humano. Entre os elementos mais utilizados para este fim, estão os vapores de argônio, de sódio e de mercúrio ou, ainda, misturas desses e de outros metais pesados em estado gasoso.Intactas, as lâmpadas não oferecem maiores riscos, mas quando se quebram, elas liberam o vapor de que são feitas. No caso do mercúrio, uma vez inalado ou ingerido, ele pode, por exemplo, debilitar o sistema nervoso humano.
Segundo a REDE Celpa, em 2002, 37 mil lâmpadas da iluminação pública foram descartadas em Belém. Se todas elas quebraram, isso significa a emissão de 883 gramas de vapor de mercúrio no meio ambiente apenas pela iluminação pública. “O impacto ambiental causado pelo mercúrio de uma única lâmpada não parece assustador. Mas, quando são descartadas, sem tratamento adequado, o material prejudicial à saúde se acumula em lixões e aterros, afetando o solo e os lençóis d’água e daí chega às pessoas. O ideal seria termos pontos de arrecadação para que as lâmpadas fossem descartadas adequadamente”, acredita Maria Emília Tostes.
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por Glauce Monteiro